Escola pública do DF é destaque em prêmio sobre educação em direitos humanos

Projeto do Centro de Ensino Fundamental 08, de Sobradinho, ficou entre cinco finalistas na etapa nacional do prêmio Óscar Arnulfo Romero. O reconhecimento é concedido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI).


Equipe pedagógica e alunos do Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho, no Distrito Federal. — Foto: Ana Luísa Santos/ g1 DF

Equipe pedagógica e alunos do Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho, no Distrito Federal. — Foto: Ana Luísa Santos/ g1 DF

O Centro de Ensino Fundamental 08 (CEF 08) de Sobradinho, no Distrito Federal, é um dos cinco finalistas nacionais ao prêmio de Educação em Direitos Humanos, concedido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) em parceria com a Fundação SM.

O reconhecimento da escola pública veio por meio do projeto Vivências para o Bem Viver, que trabalhou com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos alunos durante a pandemia do novo coronavírus. A todo, foram 71 trabalhos inscritos para o Prêmio Óscar Arnulfo Romero da OEI, que visa reconhecer instituições educacionais e da sociedade civil que desenvolvem programas inclusivos que levam em conta valores como paz e direitos humanos.

O projeto do CEF 08 aborda temas sensíveis, como ansiedade e depressão, mas também oficinas práticas, como um mini curso de “lettering” – a arte de desenhar letras. Segundo a coordenadora pedagógica Olga Motta, o programa desenvolvido pela escola foi fundamental para validar o que crianças e jovens sentem, por meio da escuta ativa.

A escola atende cerca de mil alunos do ensino regular, do 6º ao 9º do ensino fundamental, e estudantes de altas habilidades de outros colégios. A turma de altas habilidades atende alunos da educação infantil ao ensino médio.

Grafite feito por alunos do CEF 08, em parede dentro da escola. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

Grafite feito por alunos do CEF 08, em parede dentro da escola. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

Caminhar juntos

A reportagem, Olga Motta contou que o projeto surgiu de forma espontânea, com a retomada das aulas remotas, no ano passado. Ela relata que, no começo, “sentiu medo por ser algo muito novo” – tanto o formato online das aulas quanto as experiências.

“Eu pensei, vou aprender com eles, porque eles também não tinham experiência. E aí, eu comecei a tratar temas que não eram do currículo formal, que a gente chama de currículo oculto, que trabalha as habilidades socioemocionais”, diz a professora.

Os encontros – que aconteciam todas às terças-feiras – tinham, em média, 60 alunos. No entanto, em alguns momentos, segundo a coordenadora pedagógica, foi necessário abrir mais de uma sala, pois a plataforma só permitia 100 alunos por chamada.

A professora Rachel Ribeiro, que trabalha com alunos de altas habilidades, conta que, por se tratar de uma escola pública na periferia de Brasília, a ação se tornou ainda mais importante.

“Quando eu assisti o primeiro encontro, eu falei: é aqui que a gente vai caminhar juntos. Porque eles [alunos de altas habilidades] também tinham uma demanda de muita ansiedade, de muita tristeza pelo isolamento”, diz Rachel.

Grafite feito por alunos do CEF 08 em muro da escola. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

Grafite feito por alunos do CEF 08 em muro da escola. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

De alunos para alunos

Além de contar com a participação de convidados, as vivências – como o projeto é chamado pela equipe pedagógica e pelos estudantes – possibilitaram que os próprios alunos apresentassem temas de interesse deles.

Maria Eduarda Perez, de 14 anos, aluna da turma de altas habilidades, diz que, no começo, não participava muito dos encontros. Mas, depois, ela lembra que passou a gostar do projeto e não perdeu mais os encontros.

Maria Eduarda tem um blog onde escreve textos para ajudar, de alguma forma, outras pessoas. Ao longo do projeto, ela criou uma apresentação sobre empatia.

“A vivência me inspirou a escrever. Eu ouvia os problemas dos outros alunos e escrevia”, diz a estudante.

Elisa Marçal, de 16 anos, também aluna da turma de altas habilidades, já trabalhava com um projeto sobre como a depressão pode afetar a vida escolar. Ela foi convidada para falar sobre o tema em um dos encontros e conta “que foi ótimo”.

“Matemática, geografia, história são importantes. Mas, se a pessoa não sabe lidar com os sentimentos, ela não é completa”, diz a adolescente.

As orientadoras do projeto, as professoras Olga e Rachel, perceberam que em 2021 os estudantes precisaram de atividades mais práticas. Por isso, elas criaram oficinas em que os alunos puderam desenvolver habilidades artríticas.

Uma delas, sobre “lettering”, foi organizada pela aluna Ana Clara Vieira, de 12 anos, estudante da turma de altas habilidades.

“Eu achei muito interessante a abertura que os professores deram para os alunos se expressassem, porque as pessoas acham que criança é muito inexperiente, que ela não tem nada para falar”, diz Ana Clara.

Pátio do Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho, escola pública do Distrito Federal. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

Pátio do Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho, escola pública do Distrito Federal. — Foto: Ana Luísa Santos/g1 DF

Olhar para o próximo

Os estudantes do 6º ano, Williams Matheus e Gabriel Dimitri, de 13 e 12 anos, respectivamente, dizem que o projeto foi essencial para fazer novas amizades e também para olhar para o próximo. Gabriel diz que as vivências também o ajudaram a ler melhor.

“Eu estava muito ruim na leitura, e os momentos de leitura [nos encontros] eram os que eu mais gostava”, diz.

Daniela Dornelles diz que o projeto foi “incrível”. Ela destaca que conheceu novas pessoas e que conseguiu desenvolver melhor a habilidade de se expressar.

“Ter um projeto tão bom e prazeroso, ainda mais em uma escola pública, é incrível. Não era algo repetitivo, sempre tinham o cuidado de trazer algo diferente”, diz Daniela.

Ganhadores do prêmio

A OEI divulgou, no último dia 14 de dezembro, os ganhadores do Prêmio de Educação em Direitos Humanos Óscar Arnulfo Romero, da etapa nacional. Na categoria A (para instituições de educação), a vencedora foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, de São Paulo, com o projeto Aula Pública e os novos desafios com a pandemia da Covid-19.

Já na categoria B (de projetos da sociedade civil), o ganhador foi o projeto UniFavela – semeando o ensino popular da Associação social UniFavela do Rio de Janeiro. A organização desenvolve um trabalho político-pedagógico antirracista, por meio da dinâmica de pré-vestibular.

Ambas vão concorrer a um prêmio de 5 mil dólares na etapa internacional do concurso. Nessa fase será anunciada a classificação final com os quatro vencedores da Ibero-América, sendo dois por categoria.

* Por Ana Luísa Santos*, g1 DF , Sob a supervisão de Maria Helena Martinho, Fotos: Ana Luísa Santos/g1 DF