(*) Ana Dubeux , Ana Maria Campos e Ana Viriato
“O DF, há muito tempo, vive um problema de segurança muito grande. Temos duas corporações que não se entendem de forma alguma. Vou empoderar meu secretário de Segurança”
Considerado uma incógnita pela população, o advogado Ibaneis Rocha começa a revelar seu estilo. O próximo governador da capital promete trabalhar muito, tomar decisões duras, se necessárias, enfrentar o corporativismo encastelado nos sindicatos, e priorizar a qualidade dos serviços públicos. Escolheu um secretariado com nomes de projeção nacional, porque aposta em soluções criativas. Mas garante que não terá pudor de mudar a equipe se os programas não avançarem.
Político neófito, Ibaneis assume o poder com compromissos gigantescos, como o pagamento de reajustes a servidores públicos e investimentos em infraestrutura, ainda com a redução de impostos. Ele toma posse, em primeiro de janeiro, já com um nó aparentemente desatado: o destino do Centro Administrativo de Brasília, localizado em Taguatinga, construído por meio de uma PPP, que é o centro de um dos mais recentes escândalos do país.
Em entrevista concedida na Redação do Correio, na última sexta-feira, quatro dias antes de assumir o poder, Ibaneis contou que procurou órgãos de controle, negociou com as empresas que integram o consórcio responsável pela obra e com a Caixa Econômica Federal, que financiou o empreendimento. Ousadia é seu lema, coisa que, para Ibaneis, faltou na gestão do antecessor, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Logo nos primeiros dias, pretende se dedicar à saúde, sem se desligar do combate à criminalidade e da educação. Na segurança, aliás, pretende mudar um paradigma. Quer “empoderar” seu secretário da pasta, o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que não será uma “rainha da Inglaterra”.
Outra medida será mudar a equipe, por meio de um “decretão”, com a exoneração de todos os cargos comissionados. Aos poucos, vai nomeando seu próprio staff. Entre os gestores a serem definidos, estão os administradores regionais, que serão indicados apenas depois da eleição da Mesa Diretora da Câmara Legislativa.
Sobre os números em caixa, Ibaneis prefere, por ora, não contestar as declarações de Rollemberg. Ele disse que deixa para o sucessor R$ 600 milhões nos cofres públicos. Mas Ibaneis promete uma avaliação criteriosa das cifras para apresentar à população nos primeiros dias de sua gestão. “Se for verdade, vou receber e agradecer. Agora, se forem R$ 600 milhões com R$ 1 bi em dívidas…”, disse Ibaneis.
Falta pouco tempo para a posse. O que ainda precisa ser definido até dia 1º?
Está pendente a questão das administrações regionais. Recebi uma lista de nomes, algumas indicações de políticos… Vou sentar com o pessoal da Casa Civil e fazer uma avaliação das opções para publicar as escolhas no dia 2 ou 3 de janeiro. Vou esperar passar a eleição da Câmara para, depois, fazer as indicações. Quero saber se todos vão cumprir com o seu papel.
Como funcionará a escolha dos administradores?
Ainda existe um questionamento muito grande sobre a lei das administrações regionais, publicada após a Câmara derrubar o veto do governador Rodrigo Rollemberg à matéria de autoria do Chico Vigilante. O Ministério Público, em contato comigo, disse que está com a ação [direta de inconstitucionalidade] pronta para o ingresso contra a proposta. Então, farei a nomeação por um período inicial de três ou quatro meses, enquanto isso se resolve. Talvez eu faça uma negociação com a Câmara e com próprio Chico Vigilante para que encaminhemos à Casa projeto do governo parecido com o dele, a fim de tornar a legislação constitucional e resolver isso definitivamente.
Mas os administradores terão mais autonomia?
A ideia é dar mais autonomia para as administrações. Mandei fazer o dimensionamento de cada uma delas e o levantamento das cidades que estão mais prejudicadas, pois as cidades que estão mais novas e organizadas podem ter uma estrutura de administração reduzida. Com o tempo, implementaremos mais infraestrutura nas administrações, levando serviços como o Na Hora, e as tornando um grande centro de atendimento à população.
O senhor pretende fazer um decretão para exonerar todos os titulares de cargos comissionados?
A ideia é fazer um decretão, mas, em seguida, ir nomeando outros. Em alguns locais, que são muito sensíveis e têm poucos funcionários, pedi que eles encaminhassem uma lista. É um caso que não pode parar, por exemplo, o SOS Criança. São programas que precisam de atendimento constante.
Pelo seu estilo de tomar decisões rápidas, imaginamos que, em 1º de janeiro, o senhor já vai querer fazer alguma coisa. Como será?
A ideia é entrar com medidas emergenciais, principalmente, na área de saúde, que é muito carente. Tem muita gente mal nos hospitais. Tenho recebido relatos horríveis: de corredores, emergência. Então, estou com vários decretos sendo elaborados para que possamos publicá-los já no dia 1º e colocar a reestruturação em prática.
E nas outras áreas?
Também pretendemos fazer uma reestruturação muito forte na área de segurança. O DF, há muito tempo, vive um problema de segurança muito grande. Temos duas corporações que não se entendem de forma alguma. Temos um secretário de Segurança que não tem poderes. Hoje, o diretor da Polícia Civil e o Comandante da Polícia Militar chegam diretamente no governador. Isso não vai acontecer mais. Eles terão de passar pela Secretaria de Segurança. Vou empoderar meu secretário de Segurança. Vai ter de ser feita segurança pública de uma forma bastante organizada, com hierarquia e disciplina. Então, virão decretos na área da segurança para que possamos organizá-la. Esse modelo que está aí desde o governo Arruda não funcionou, está claro. Então, não será o nosso. Eu nem sequer vou atender Diretor da Polícia Civil ou Comandante da Polícia Militar sem a presença do secretário de Segurança.
Essas corporações são muito fortes. O senhor tem ideia da pressão que vai sentir,como ameaças de greve?
Não tenho medo de pressão. Não tenho medo de greve. Tenho a população ao meu lado. Quem quiser trabalhar em parceria… Vou respeitar todas as corporações, fazer com que elas possam crescer e melhorar. Mas meu principal objetivo é entregar serviço para sociedade. É para isso que fui eleito. Se eles quiserem impedir, vão encontrar alguém muito duro, e vou colocar a população contra eles também. Então, acho que a hora é de tentar harmonizar.
E os compromissos que o senhor fez, vai manter?
Vou arcar com todos eles. Vou chamar todas as corporações para conversar. Já estou trabalhando nesse sentido. Para se ter ideia, o pessoal da Polícia Militar estava prestes a perder o auxílio-moradia, que foi dado por decreto na época do Agnelo. Fui ao Tribunal de Contas pedir para que os conselheiros não julgassem até que eu organize a situação. Já estou trabalhando nesse sentido. Vou fazer o comparativo para saber qual o reajuste de cada uma das forças. Então, vou sentar com eles e ver qual a forma de pagar, e a partir de qual data.
No final dessa conta, eles terão o mesmo salário?
A ideia é que seja pelo menos aproximado. As estruturas são diferentes, então, fica muito difícil tratar dessa maneira. Mas quero todos eles bem remunerados, trabalhando satisfeitos. E temos muitos outros problemas de segurança. Digo isso de forma bem clara. Por exemplo, o Fundo Constitucional, que era uma solução para o Distrito Federal há anos, hoje está com um grande problema. Porque está se tornando um Fundo Previdenciário: paga todos os aposentados da saúde, da educação e da segurança. Esse é o motivo de termos, hoje, quase metade da corporação de policiais civis e militares. Isso tem de ser resolvido. O Tribunal de Contas está lá para dizer que não pode ser pago aposentado com o dinheiro do fundo. Você tem de dizer para onde os inativos vão. Eles não podem continuar dentro do fundo.
Como resolver essa questão?
O Tribunal de Contas vai dizer como deve ser feito. A previsão, nesse ano, é de aposentadoria de quase 2 mil policiais militares. Como contratar novos se você não tem a fonte de recursos? Isso é um problema que precisa ser enfrentado. E, se as corporações continuarem dessa maneira, acabarão. O fundo é finito.
Pretende pagar a paridade da Polícia Civil com a Federal de uma vez ou vai dividir?
Não temos condições de pagar de uma vez. Quero dividir. Acho que é uma maneira de dar o escalonamento e, conforme a economia vá melhorando, teremos uma arrecadação melhor de tributos e podemos até antecipar essas parcelas. Mas precisamos pensar dentro do nosso orçamento e hoje. E, dentro do orçamento de hoje, dá para pagar uma parcela da paridade e deixar as demais para os anos seguintes.
O governador Rodrigo Rollemberg disse que deixará R$ 600 milhões nos cofres e que isso facilitaria sua chegada. O senhor acredita nesses números?
Grande parte dos R$ 600 milhões vem do meu esforço de ir atrás de recursos que estão sendo colocados dentro dos cofres do DF. Essa questão que ele está colocando, eu não conheço. Mas números não mentem. Então, dia 2 ou 3, terei todos os números do DF em mãos. Se os R$ 600 milhões estiverem livres e, não comprometidos com contas a pagar, vocês tomarão conhecimento. Prefiro não questionar. Se for verdade, vou receber e agradecer. Agora, se forem R$ 600 milhões com R$ 1 bi em dívidas…
Desde o fim do segundo turno, o senhor e Rollemberg têm mantido uma relação de respeito, sem os embates da campanha. Acredita que vai continuar dessa forma?
Não tenho nenhuma vontade de acirrar. Palanque é palanque. Desceu do palanque, somos amigos. Espero poder conversar, contar com a experiência dele. Cada um tem seu estilo de governar. O dele, pelo jeito, não deu certo, porque a população o rejeitou tremendamente. Espero que o meu dê certo. Não quero sair do governo tão rejeitado. Minha ideia é continuar convivendo com ele, como o fizemos no passado. Nada de muito amistoso. Nunca fui na casa dele e ele nunca foi na minha. Mas, sempre que nos encontramos, nos cumprimentamos de forma bastante respeitosa. A partir do dia primeiro, ele é um ex-governador do DF que vai ser muito bem tratado por mim e espero que por toda a população do DF.
O senhor montou uma equipe muito ligada ao governo Temer. Por que foi feita essa escolha?
Fui atrás de pessoas com experiência. Por exemplo, a nomeação que fiz para a Terracap. Notei que a Terracap é um verdadeiro banco imobiliário e tem condições, por meio dos fundos mobiliários, de criar grande desenvolvimento para o DF. Então, busquei uma pessoa de mercado. O ministro Occhi foi presidente da Caixa, estava no Ministério da Saúde e é um camarada que tem respeito no mercado. Então, por meio disso, juntamente ao BRB, podemos fazer muita coisa.
Há uma reação do setor produtivo em relação ao nome do ex-ministro. Isso o preocupa?
Ele vai saber se colocar junto ao setor produtivo. É um camarada que tem uma visão de futuro muito grande. Mas temos também que ter uma visão de que as empresas do DF passam por um problema muito sério: foram tomadas de contas pelos seus funcionários. Eles só fazem aquilo que interessa a eles; não estão mais preocupados com a cidade. Eu não vou enfrentar esse tipo de situação. Não tenho nada contra os salários das empresas, mas são coisas absurdas. Tudo que a Terracap produz, hoje, ela consome internamente. Se você pegar o balanço da Terracap nesse ano, é isso que está acontecendo. Uma empresa desse tipo não serve para mim. Uma empresa tem de servir a cidade e, não a seus funcionários. Essa visão tem de mudar. Assim como terá de mudar a visão de todas as empresas: Caesb, Metrô, Ceb. Vi, esses dias, que houve autorização para que sejam vendidos R$ 675 milhões de ações da Ceb. Esse dinheiro vai servir para quê? Para pagar contas daquilo que eles consumiram. E a população está sofrendo. Vi o relatório da Ceb junto à Aneel. A Ceb teve uma melhoria nas suas contas somente através do aumento de tarifas. Nada por meio do aumento de eficiência. São coisas desse tipo que encontrei durante a transição que não quero que permaneçam.
O senhor pretende manter a venda de ações da CEB?
Se for vender R$ 675 milhões em ações para pagar o rombo daquilo que a CEB não produz, não concordo. Esse dinheiro tem de vir para investimento dentro da empresa, para que ela se valorize cada vez mais. Essa é a mudança de pensamento que tem de existir. Porque o modelo anterior não serviu. Temos uma ineficiência muito grande em relação à CEB, um nível muito grande de reclamação e uma das tarifas de energia mais altas do país. De que adianta ter uma empresa igual ao metrô, que está encastelado, dando prejuízo para o governo do DF e para a população, por exemplo?
O senhor pensa em fazer uma concessão do metrô, certo?
Não será feita a concessão apenas se não aparecerem empresas interessadas. Vamos fazer o chamamento já nos primeiros dias de janeiro. O metrô dá R$ 300 milhões de deficit todos os anos e não atende a população. Porque, se fosse para pagar R$ 300 milhões, mas funcionasse bem, acho até que valeria a pena, porque algumas coisas realmente são deficitárias. Mas ele tem de dar um retorno. E qual o retorno que o metrô dá para a sociedade? Vamos expandir o metrô, melhorar o atendimento, diminuir o deficit e dar segurança para os servidores. Dou um exemplo: a grande maioria dos metrôs funcionam sem bilheteiros. No DF, eles ganham quase R$ 8 mil.
O que vai mudar na sua gestão?
Precisamos de um choque de gestão. E esse choque de gestão vem de pessoas com experiência. Quando você traz um ministro dos Transportes para assumir a Secretaria no DF, muda tudo. É uma pessoa de altíssima experiência, foi superintendente do DNIT, conhece todos os projetos. Uma pessoa dessa tem de estar no governo, independentemente do partido ao qual é filiada.
Os políticos não foram ouvidos?
Recebi muita reclamação dos políticos, porque montei um secretariado sem ouvi-los. Em pouquíssimos casos, houve indicação política. Nos casos em que isso aconteceu, foram indicações pessoais minhas. É o caso do Wellington [Luiz], uma pessoa que me trouxe bastante afeição pela serenidade e firmeza. Raimundo Ribeiro é outro exemplo: um advogado que conheço há muitos anos, que sei do caráter.
Mas, durante a campanha, o senhor havia garantido que não nomearia pessoas investigadas por corrupção. Bispo Renato Andrade é réu por corrupção passiva e vai comandar a articulação entre o governo e a Câmara Legislativa. Wellington Luiz é réu por peculato em um caso de desvio de verba de emendas.
No caso do Bispo Renato, a articulação com a Câmara não será um cargo de secretariado, mas uma assessoria parlamentar. E não conheço o processo do Wellington — na certidão que me trouxeram dele, não há nada que pese.
Qual resposta o senhor deu para os políticos que reclamaram?
Disse que o governo que estamos montando é um governo que beneficiaria todos eles. Se o governo der certo, todos que nos apoiaram vão sair melhor ao final. Essa política do cargo fez com que Agnelo não fosse para o segundo turno; fez com que Rollemberg chegasse ao segundo turno com a eleição perdida. O que funciona é um governo eficiente.
Esse discurso vai colar com os políticos?
Nós todos que fomos eleitos neste pleito somos fruto da necessidade de uma política diferente. Tanto os deputados federais e senadores, quanto os distritais, têm uma consciência política diferente. Na Câmara Legislativa, por exemplo, há 18 deputados da minha base, que integram 16 partidos. Se eu fosse atender, teria que entregar uma secretaria para cada deputado. Que governo seria esse? É um jeito de fazer política que assumi, e isso não tem me trazido problemas. Por exemplo, a eleição da Mesa Diretora da Câmara Legislativa, pela primeira vez da história do DF, foi decidida com duas semanas de antecedência. Isso é prova de que essa é a política que deve ser feita. E eu não dei um cargo para ninguém.
O senhor tem planos mesmo de disputar a Presidência?
Tenho planos para fazer um bom governo. Sempre trabalho com aquilo que está em minhas mãos. Acho que vocês já ouviram falar da história da cesta de ovos. Tenho uma cesta de ovos no meu escritório por conta da história de uma moça. Ela ganhou uma galinha e foi juntando os ovos para vender na feira. Na semana seguinte, achava que ia ter duas galinhas, venderia mais e tal, mas, no meio do caminho, ela sonhou tanto, que a cesta de ovos caiu e quebrou. Ela ficou sem nada. Trabalho minha vida toda assim. Agora, eu sou o governador eleito. Terça-feira, serei o governador empossado. Vou fazer um mandato muito bom, acompanhar o cenário nacional… Acho que, na política nacional, há muita coisa para acontecer. Vou me dedicar à população do DF e tentar resolver os problemas dessa cidade. Se isso me der uma projeção nacional, tenho 47 anos de idade e posso fazer o que quiser da minha vida. Já mostrei isso. Saí de 0,7% e cheguei a 70%. Então, disposição, força de vontade e determinação não me faltam. Se eu cuidar bem do que tenho agora, lá na frente escolho o que vou querer ser.
Qual será seu estilo de governo? Algo do tipo prefeitão, como Roriz, que ia às ruas, com o governo itinerante, atuando nas administrações, ou será mais reservado?
Eu sou mais de delegar e cobrar resultados. Sempre falei isso. Por exemplo, quando indiquei o Rafael Parente para a Educação, o fiz pelo currículo. Não o conhecia, mas fui atrás de informações sobre a personalidade dele. Conheço alguns parentes, porque, por incrível que pareça, a família dele também é do Piauí. Então, ele foi indicado por suas qualidades técnicas e detém toda a minha confiança para mudar a educação do Distrito Federal. Vou apostar no projeto. Então, não preciso estar dentro da diretoria dele ou da Secretaria para saber se está dando certo ou não. Agora, se um dia o índice relacionado à área cair, vou ter de chamá-lo para resolver. Se não resolver, vou trocar. A questão de estar nas ruas com as pessoas, eu gosto. Faz parte da minha vida. Mas não quero interferir nas secretarias e nas administrações. Quem trabalha comigo sabe que sou rigoroso e não adulo. Eu não tenho paciência com quem chega com problemas para mim e não sabe a solução.
E a questão ideológica do Rafael Parente?
Existe, hoje, uma guerra dentro da educação sobre as questões ideológicas que vêm dessa luta de partidos nos últimos anos. Acho que essa questão tem de ser pacificada. Enquanto houver essa briga ideológica, você nunca vai conseguir resolver o problema da educação, que é o principal. Hoje, temos um nível educacional muito baixo em quase todo o país; uma formação profissional de péssima qualidade, tanto é que você não consegue profissionais. Isso vem exatamente dessa guerra ideológica, que foi o empoderamento, de forma equivocada, das ideologias dentro das escolas. Tenho um meio-termo para isso. Vou começar a criar, no DF, algo que tem dado muito certo em Goiás: escolas militares. Quero abrir várias unidades deste tipo e fazer um comparativo. Em Goiás, por exemplo, as escolas militares têm dado um banho nas outras. Aqui, é muito restrito. Há apenas duas. Quero ver escolas militares funcionando no Gama, Ceilândia, porque, nesse caso, terei um comparativo por região.
Acha que o presidente Bolsonaro pode ajudar?
Acredito que sim. Tenho muita esperança no presidente Bolsonaro. Ao contrário de muitos outros políticos, acho que ele vem com vontade de realizar. Todo mundo vai errar, não tenho dúvida. Eu também vou errar. Mas ele está com muita vontade de fazer, e detém a esperança do povo brasileiro.
Qual será o futuro do Mané Garrincha?
A Terracap está refazendo a concessão, atendendo a observações do Tribunal de Contas do DF. Mas a ideia é seguir adiante com a PPP. É um projeto muito interessante, que traz vida para a cidade. Aliado com o projeto do autódromo, cujo edital foi publicado, acredito que a gente vá conseguir remodelar o centro da cidade. Além do que, vamos acabar com uma despesa muito grande do DF e mudar um pouco a visão desse passado que foi tão ruim: um estádio construído com uma capacidade acima da necessária, com grandes indicativos de corrupção. Temos que mudar essa visão da cidade, para tirar esse estigma de que a coisa ficou errada. Quando tivermos isso funcionando, trazendo benefícios, turismo e desenvolvimento para a sociedade, vamos virar a página de uma vez.
Passamos quatro anos com Rollemberg dizendo que não havia dinheiro. Hoje, olhando a máquina, o senhor acha que faltaram recursos ou ousadia?
Acho que faltou ousadia. Não gosto de criticar. Foi o modelo que ele adotou. Existem duas maneiras de governar: com o que você tem e com o que você pode ter. A ciência do governante é criar fórmulas para conseguir dinheiro. Dentro da lei, há possibilidades: PPP, PMI e outras. Na minha visão, o bom gestor é criativo.
Qual é o maior desafio seu neste primeiro momento?
É a saúde. Os relatos que tenho recebido são de pessoas que estão dentro dos hospitais sofrendo muito. Precisamos acabar, senão, pelo menos diminuir esse sofrimento. Terei três meses para colocar as licitações para a cidade voltar a funcionar. A cidade precisa voltar a crescer, e eu tenho encontrado muita alegria no olhar dos empresários, talvez por causa do ambiente nacional, mas também daqui. Muita gente dizendo que vai voltar a investir no Distrito Federal. Precisamos voltar a empregar as pessoas. Brasília vive um grande problema de desemprego. Isso tem gerado muitos outros problemas, na parte de segurança. Então, nossa prioridade é saúde em primeiro lugar, além de segurança e educação, que vêm num passo importante nos três primeiros meses, com reestruturação.
Como vai ser sua rotina de trabalho?
Acordo cedo, às vezes às 4h da manhã, já estou no escritório. Quero voltar à academia, pedalar e, aí, trabalhar até a hora que der certo.
Na área do funcionalismo, a licença- prêmio só é paga no DF e no Acre. O senhor tem pretensão de extingui-la?
A licença-prêmio é devida. O problema está na concessão. O certo é que se conceda a licença no período de trabalho. Aí não fica dívida nenhuma com o gestor. No serviço federal, também há licença capacitação. Mas lá as licenças são cumpridas.
Os reajustes das 32 categorias também serão diluídos?
Essa também é uma preocupação minha. O valor para pagamento deles, o governador (Rollemberg) já colocou no orçamento, para pagar a partir de abril. O que me preocupa é o passivo que ficou ao longo desses anos. O que eu soube é que já está em torno de R$ 4 bilhões. Uma coisa é ir para precatório. As ações estão ganhas. O Supremo está dando decisões nessas ações monocraticamente. Então, os processos estão descendo, estão transitando em julgado, serão executados e a remuneração das dívidas judiciais. Falo disso com propriedade, porque conheço, são mais altas do que as de banco. Tem todo um cálculo que eleva muito essa dívida. Os governantes preferem colocar em precatório e ir empurrando. Vou organizar e ver na área financeira se existe uma possibilidade de acordo, via Tribunal de Justiça. Temos que reduzir essa fórmula tradicional que causa mais prejuízo aos cofres públicos.
Já resolveu o que fazer com o Instituto Hospital de Base?
A manutenção dele está definida. Mas o modelo vai mudar quase integralmente. Tem muitos processos de gestão avançados, inclusive programas de cadastramento de pessoal, de atendidos, que podem ser ampliados para várias unidades do DF. Mas o principal, o modelo de contratação e de compras, tem que mudar. Há muitos questionamentos em relação aos valores, à forma de contratação de pessoal, salários que são pagos, aquilo que nós dissemos durante a campanha, que era uma ilha de excelência dentro de um mar de problemas é exatamente isso. Na maneira como criaram, não tem como atingir a base. Não quero uma ilha de excelência. Quero uma saúde de excelência. Enquanto o pronto-socorro está sofrendo, dentro do instituto, está tudo bem.
A residência oficial será mantida para o fórum de governadores?
Não só para isso. Para reuniões de secretarias, para eventos com servidores, cursos de qualificação, encontros de secretários. Quero transformar aquilo em um centro para todo o governo.
Para vários governadores eleitos, o grande desafio é o ajuste fiscal. O senhor também pensa assim?
Quando falo de choque de gestão, falo de choque de eficiência. Tem que começar a trabalhar com um ponto: o servidor público parece que esqueceu que serve ao público. Ele serve a ele próprio. Isso tem que mudar. Quando eu falo em choque de gestão, falo mais nas entregas públicas. Temos que ensinar o servidor a fazer entregas e, para isso, ele precisa ter prazer em trabalhar. São duas coisas que estão dissociadas: prazer em trabalhar e entrega pública e, no meio disso, está a boa remuneração que todo mundo quer ter. Vou fazer como o pai faz com o filho, entrega com uma mão e cobra com a outra. De acordo com a política que ele estiver realizando, ele vai ser mais ou menos valorizado.
O destino do Centrad está definido?
As negociações estão muito avançadas. A partir da avaliação que o próprio governo Rollemberg fez, mais a avaliação da Caixa e uma pré-avaliação da Polícia Federal, soubemos que dá em torno de R$ 540 milhões, a obra. Aplicamos, então, o índice do Tribunal de Contas da União (TCU). Chegamos, então, ao valor de R$ 890 milhões. Vamos comprar o prédio. Eles fizeram uma condição especial. Falamos em juros de 6,25% ao ano, 24 anos para pagar e 24 meses de carência. Não tenho relacionamento nenhum com as empresas, que responderão pelos seus problemas junto à Caixa. Tudo isso será submetido ao Ministério Público e aos demais órgãos de controle. Sabe o que importa mais em tudo isso? Não é só o Centrad. Você tem a esperança de metade da população do DF, que está entre Samambaia, Taguatinga e Ceilândia. Eles dependem daquilo ali para o desenvolvimento. Segundo lugar: o maior agente financiador de obras públicas deste país é a Caixa Econômica, seja na área de infraestrutura, seja saneamento básico, seja moradia. Só o fato de eu ter sentado à mesa para negociar fez com que eles liberassem 12,4 mil moradias. O maior projeto de moradias deste país vai ser aqui. Eles estavam com tudo embarreirado, mas assinaram o contrato com a JC Gontijo para fazer o Itapoã Parque. Eles ainda estão lá com R$ 320 milhões para fazer o túnel de Taguatinga.
E o GSI? Sai ou não?
Estou encontrando muitos problemas de natureza legislativa. A legislação que rege a questão é toda federal. Então, o presidente da República precisaria mandar um projeto de lei para o Congresso. Não é falta de vontade. Tenho muita, inclusive. O GSI funciona bem nos locais onde existe. Há equilíbrio entre as forças militares e civis. Isso é muito importante, porque, aqui no DF, existe o conflito entre as corporações. É uma forma de integração. Talvez, encontre algum problema para implementar o GSI, porque o novo presidente tem origem militar, mas tudo isso está sendo estudado. No primeiro momento, terei de conviver com a Casa Militar.
Por Ana Dubeux , Ana Maria Campos e Ana Viriato/ Correio Braziliense
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