William Shakespeare é um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Sua obra atravessa séculos, e traz as incontestáveis reflexões de temas filosóficos, de grande importância para a atualidade.
Hamlet, uma de suas principais peças teatrais, traz consigo o descortinar da alma humana; uma obra-prima da mais densa análise do caráter e das ambições que norteiam o homem.
Em uma das ponderações sentencia Shakespeare: “Acima de tudo sê fiel a ti mesmo.”
Fiel, oriundo do latim fidele, cuja conceituação expressa uma atitude de quem tem compromisso com aquilo que assume. Confiável, honesto, probo e verdadeiro são sinônimos correlatos da fidelidade.
Contemporaneamente há uma profunda crise de valores e conceitos preteritamente consagrados, e que hoje perderam sua significação e seus sentidos. Não há mais lastros, sobretudo, do próprio cerne; somando-se a esta conjuntura decadente flexibilizar aquilo que outrora era virtuoso, como a fidelidade.
Afinal, qual o valor da fidelidade?
Qual o sentido de tal conduta?
Qual o “ganho” de tal procedimento?
Perguntas complexas de respostas desvirtuosas.
Prática constante, hoje, é o adverso da fidelidade. É comum ser falso, desleal, insincero, desonesto, ímprobo, e acima de tudo, indigno.
Tornamo-nos escravos de uma era desvalorativa de caráter, onde as raízes são essencialmente rasas e não há mais valores palpáveis, sólidos e concretos.
Ser fiel a ti mesmo é, antes de tudo, satisfazer aos teus próprios desígnios, perseguir teus fins, não terceirizar teus fracassos, e não se decompor em tuas incompletudes. Assumir responsabilidade e tua própria historicidade.
Não é honesto e fiel coexistir escravo de roteiros não próprios; ficar preso às vaidades de uma existência que você não vive, retratadas incessantemente num álbum de vazios.
Contudo ser fiel a ti mesmo não é garantia de paz e de bonança, pelo contrário, perseguir a fidelidade de si mesmo é sinônimo de conflito e de se desfantasiar da hipocrisia, das convenções sociais, na miséria terrível do falsear a existência.
Ser fiel a si mesmo é uma ação de dignidade, de honestidade a si próprio, porquanto, não serás falso com ninguém, não serás indigno com a vida, não serás adjeto socialmente.
Entre o dilema de ser ou não ser onde se questiona a vida e a morte na arte de suportar situações desfavoráveis, devemos buscar nossos sonhos, nossas utopias e sermos fiéis a nós mesmos para não sermos falso com ninguém.