sexta-feira, julho 26, 2024
InícioArtigos1968 O ANO QUE NÃO TERMINOU.

1968 O ANO QUE NÃO TERMINOU.

NERUDA NO BRASIL

 

O amargo ano de 1968 no Brasil foi marcado pela perda completa da inocência. A brutalidade, as atrocidades e as barbáries mostraram definitivamente suas faces mais perversas.

 

Cantou Gilberto Gil na música “No Woman No Cry”:

“Amigos presos, amigos sumido assim, pra nunca mais.

Nas recordações retratos de um mal em si.

Melhor é deixar pra trás.

Não, não chore mais… não, não chore mais.”

 

Em meio a este ambiente de medo, desesperança, com uma ditadura intensa, com sua vitalidade renovada, a cada ação desumanizadora, coexistíamos à selvageria.

Como um alento ao arbítrio e ao censurável desembarcava no Rio de Janeiro uma brisa de lirismo, a transfiguração da linguagem humana em arte, estética e beleza.

Pablo Neruda, um dos gigantes da literatura do século XX, chegara para visitar seus amigos, Rubem Braga e Fernando Sabino.

Tínhamos entre nós o futuro Prêmio Nobel de Literatura – fato ocorrido no ano de 1971. Neruda, vítima do mesmo modo do arbítrio, de um golpe ditatorial que viria a ocorrer, em 1973, no seu amado Chile, queria apenas curtir a boa conversa, a praia e a reflexão.

Homem de esquerda firme em suas convicções, em seu discurso ao receber o Nobel de literatura proferiu: “De tudo isso, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos demais homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos levam ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é preciso atravessar a solidão e a aspereza, a falta de comunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar torpemente ou cantar com melancolia; mas nessa dança ou nessa canção estão consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de ser homem e de crer em um destino comum.”

Neste trecho Neruda demonstrava sua fé e sua consciência.

Sua visita ao Brasil no ano de 1968 representou, mediante o obscurantismo ditatorial, um alento, uma brisa em meio ao caótico e repugnante ambiente.

Enfim, tínhamos um pouco de poesia.

(*) Por Henrique Matthiesen, Bacharel em Direto e Jornalista – Colaboração para o Jornal de Sobradinho

Emícles Nogueira Nobre Júnior
Emícles Nogueira Nobre Júniorhttp://jornaldesobradinho.com.br
Jornalista Profissional DRT 12050/DF, Blogueiro, Gestor Comercial & Diretor Geral do Jornal de Sobradinho.
RELATED ARTICLES
- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

error: Conteúdo protegido
WhatsApp chat