terça-feira, outubro 8, 2024
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Especialistas alertam para necessidade de monitorar projeto da Cidade Urbitá

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Mesmo com licença ambiental e aprovação do Conplan, novo empreendimento a ser erguido na região de Sobradinho deve evitar o desvirtuamento do projeto original. Especialistas alertam para a necessidade de monitoramento por parte do governo

 

Para que a criação de uma cidade no Distrito Federal não agrave os problemas urbanos que atormentam os brasilienses, é preciso que haja, além de planejamento, monitoramento na execução da iniciativa. Como o Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan) aprovou o projeto da Cidade Urbitá, um empreendimento próximo a Sobradinho com capacidade para abrigar 118 mil pessoas. Para especialistas, é salutar que o crescimento da capital seja planejado e previamente estudado. Mas eles alertam para a necessidade de fiscalização do governo e da sociedade civil para que não haja desvirtuamento. Eles defendem, ainda, a exigência de obras de infraestrutura prévias para evitar problemas de trânsito e minimizar o risco do surgimento de outra cidade-dormitório.

 

A Urbitá será criada na área da antiga Fazenda Paranoazinho, entre Sobradinho e Grande Colorado. O plano urbanístico geral da cidade teve o aval do Conplan em novembro e, na última quarta-feira, os conselheiros do colegiado aprovaram o detalhamento da primeira etapa, que prevê 11 mil moradores. Como a área tem licença ambiental, é possível o registro em cartório do loteamento, como autorizado pelo Conplan.

 

Além disso, a iniciativa deverá levar em conta o trânsito saturado na área, com congestionamentos frequentes na BR-020, principalmente na subida do Colorado. A obra do Trevo de Triagem Norte, que prevê a duplicação da Ponte do Bragueto e um complexo de viadutos para aliviar o tráfego, foi concebida sem levar em conta esse adensamento.

 

Ainda assim, a perspectiva de implementação do empreendimento, desenvolvido de forma reservada na última década pela Urbanizadora Paranoazinho, é bem-vista pelo setor produtivo de Brasília. A empresa dona da área pretende fazer parceria com empresas do segmento da construção civil do DF para tirar a iniciativa do papel. A exigência é de que sejam seguidas as diretrizes urbanísticas e arquitetônicas idealizadas pela equipe, que incluem interação com espaço público, fachadas ativas e a construção de prédios de até 10 andares.

 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, João Carlos Pimenta, está otimista com a criação da cidade. “Um empreendimento privado dessa dimensão é algo inédito. Foram feitos estudos, como os de impacto de trânsito, que mostraram a viabilidade. Trazer novos negócios é algo importante para a categoria e para a geração de empregos no Distrito Federal”, explica Pimenta. Segundo a Urbanizadora Paranoazinho, a empreitada pode gerar um investimento inicial de R$ 300 milhões, além de gerar 2,5 mil empregos diretos.

 

O geógrafo Aldo Paviani, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da Codeplan, participou da discussão sobre o projeto no Conplan e votou favorável à proposta. Mas ele lembra que é preciso evitar desvirtuamentos na execução, “para que não surja uma nova Águas Claras”. O bairro localizado ao lado de Taguatinga foi concebido para ter edifícios de até 12 andares, mas, nos anos 1990, houve pressão do setor imobiliário, e a Câmara Legislativa aprovou a alteração de gabarito para liberar empreendimentos de até 36 pavimentos.

 

“Esse projeto (Urbitá) foi criteriosamente estudado pelo Conplan, que tem uma equipe competente. Teve aval da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), da Novacap, da Companhia Energética de Brasília (CEB) e recebeu licenças ambientais. Mas frisei bastante a necessidade de que esta seja uma cidade completa, para que as pessoas possam trabalhar e morar no mesmo lugar, evitando o surgimento de uma cidade-dormitório. Hoje, o Plano Piloto reúne 43% das oportunidades de emprego, com os melhores salários”, argumenta Paviani. Para o professor emérito da UnB, a consolidação do empreendimento também deve observar questões ambientais. “Os cursos d’água da região têm de ser preservados”, acrescenta.

 

Abastecimento

 

A CEB informou que poderá fornecer energia elétrica ao parcelamento, e a Novacap frisou a necessidade de elaboração de um projeto de drenagem específico para o local, com a construção de bacias de contenção. O projeto da Cidade Urbitá prevê uma etapa preliminar de abastecimento por poços profundos. A área ocupada na primeira etapa aprovada do projeto tem de ser compatível com a produção de água do sistema de abastecimento atual. Quando o sistema do Paranoá entrar em operação, será possível ampliar aos poucos a ocupação do empreendimento.

 

A proposta inclui a construção de dois reservatórios, com capacidade de armazenamento de 1,5 mil metros cúbicos, além de uma estação de tratamento de esgoto. O lançamento dos efluentes tratados será feito no Ribeirão Sobradinho, próximo à área de confluência com o Córrego Capão Grande. A Adasa concedeu outorga prévia à Urbanizadora Paranoazinho para a perfuração de 10 a 12 poços.

 

Com o racionamento de água encerrado há apenas seis meses, a crise hídrica é um ponto a ser observado diante do surgimento de uma cidade. Professora do Departamento de Geografia da UnB, Marília Luiza Peluso lembra que a preocupação com a escassez de água deve ser constante entre os brasilienses, mas diz que a localidade pode se adequar ao sistema. “A Codeplan faz uma previsão de que vamos passar de 3 milhões de habitantes em 2030. É preciso ter espaço para abrigar esses novos moradores e é salutar que esse crescimento seja planejado, para evitar invasões que surgem e se consolidam sem nenhum tipo de estudo”, alerta a especialista. “É desejável que haja cidades planejadas, mas o governo tem de acompanhar esse processo para que a proposta não seja deturpada”, ressalta Marília.

 

Integração

 

O projeto prevê a construção de uma estação intermodal, que é um terminal para diferentes tipos de transporte, como ônibus e BRT. O projeto da área prevê o prolongamento da Avenida Sobradinho e, entre as medidas mitigadoras, está a construção de uma ponte sobre o Ribeirão Sobradinho.

 

Estimativa

 

A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) 2018 apresentou um diagnóstico demográfico, social, econômico e urbano do DF. Com dados coletados entre 12 de março e 18 de outubro, o estudo ocorreu em 28.720 domicílios, de um universo de 928 mil, nas 31 regiões administrativas. O estudo prevê que a população da capital federal passe dos atuais 2,9 milhões para 3,4 milhões em 2030 — aumento de 17,2%.

 

(*) Por Helena Mader/CB – Fotos /CB
Emícles Nogueira Nobre Júnior
Emícles Nogueira Nobre Júniorhttp://jornaldesobradinho.com.br
Jornalista Profissional DRT 12050/DF, Blogueiro, Gestor Comercial & Diretor Geral do Jornal de Sobradinho.
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