“Devo muito do sucesso da minha cervejaria ao Sebrae”, diz empresário
Maria Sumbane e Aninho Mucundramo Irachande: paixão pelo que fazem unida ao empreendedorismo.
Água, lúpulo, malte e levedura são, tradicionalmente, os ingredientes básicos utilizados no preparo de qualquer cerveja, bebida que para grande parcela da população brasileira e mundial é indispensável em qualquer momento de confraternização. A forma de preparo, no entanto, pode ser – e tem sido – customizada por vários fabricantes no Brasil e no mundo, em especial por aqueles que produzem cervejas artesanais, a exemplo do que fazem no Distrito Federal o moçambicano Aninho Mucundramo Irachande, 58, e sua esposa, a brasileira Rosângela Souza Irachande, 44, proprietários da Cervejaria Dona Maria.
A trajetória da marca, que homenageia a mãe de Aninho, Maria Sumbane, começou a ser escrita de forma despretensiosa no ano de 2017, em meio a reuniões de amigos que o casal promovia com frequência na propriedade em que moram há cerca de 18 anos e que está localizada no Núcleo Rural Córrego do Arrozal, às margens da BR 020, no Km 16, entre Sobradinho e Planaltina.
O objetivo inicial da dupla era oferecer uma alimentação saudável aos amigos, juntamente com uma bebida artesanal de boa qualidade, para desfrutar ao máximo dos momentos de lazer e de aconchego na propriedade rural.
Para que o objetivo pudesse ser alcançado, Aninho fez um curso de mestre cervejeiro e logo deu início a uma produção caseira de cerveja. Não poderia ter dado errado.
O resultado dos primeiros experimentos foram bem aceitos pelos grupo de amigos do casal que chegaram, inclusive, a fazer o rateio de custos para adquirir os insumos necessários para a produção de mais litros da bebida. Após um ano fabricando a sua própria cerveja, Aninho e Rosângela perceberam que estavam diante de uma oportunidade de negócio rentável e decidiram ampliar a produção e formalizar um negócio. Assim nasceu a Cervejaria Dona Maria.
O casal adquiriu os equipamentos necessários para a fabricação de até 500 litros de cerveja e iniciou o processo para registrar o pequeno empreendimento. Nesta etapa, os dois foram assistidos pela Emater/DF e pelo Sebrae no Distrito Federal. “Buscamos o registro, montamos um local de produção bem equipado e nos tornamos a primeira cervejaria caseira a ter registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)”, conta o empresário.
O tempo passou. Aninho e Rosângela seguiram produzindo cerveja na propriedade em que moram e, graças a investimentos oriundos do Fundo de Desenvolvimento Rural do DF, em 2020 conseguiram amadurecer ainda mais a ideia de negócio e ampliaram o empreendimento para uma agroindústria, uma microcervejaria que passou a produzir cerca de 6 mil litros da bebida por mês.
A ampliação do negócio demandou que o casal de produtores buscasse novamente o apoio do Sebrae no Distrito Federal para adequar a produção e a comercialização de cerveja à legislação vigente no Brasil. Aninho, então, participou do Seminário Empretec, e foi beneficiado pelas ações dos Agentes Locais de Inovação (ALIs) – indivíduos capacitados pelo Sebrae no DF para estar em contato direto com empresários e conduzi-los a melhorias na produtividade e competitividade – e participou de duas missões técnicas no Espirito Santo. No estado capixaba, o empresário vivenciou uma imersão no universo cervejeiro nas cidades de Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, localizadas em uma região serrana popularmente conhecida como Rota da Cerveja Artesanal.
“Eu devo muito do sucesso da minha cervejaria ao Sebrae. Empreender não é um negócio fácil e transformar o meu produto em algo de sucesso, dar um pulo grande em um período de quatro anos, saindo de uma cervejaria caseira para algo bem maior, foi uma situação que só se tornou possível graças ao apoio que o Sebrae me ofereceu. E tudo isso foi dentro de um período em que vivemos um pandemia mundial”, conta Aninho.
Enquanto o empresário se capacitava junto à instituição de fomento aos pequenos negócios, sua esposa Rosângela e seus primeiros funcionários participaram de cursos oferecidos pela Emater/DF. O foco dessas capacitações foi a gestão e os cuidados sanitários necessários para a manutenção da atividade agroindustrial no DF.
Atualmente, a Cervejaria Dona Maria conta, além de Aninho e sua esposa, com mais dois colaboradores que atuam na etapa de produção das bebidas. Diariamente são produzidas cervejas e também chopes, que além dos ingredientes tradicionais levam em sua composição frutos e outros ingredientes que podem ser facilmente encontrados na região do Cerrado.
“Um dos propósitos da cervejaria é exatamente dialogar com a diversificada flora que temos aqui no Cerrado. Muitos dos ingredientes que usamos em nossos rótulos são produzidos em nossa propriedade, enquanto que outros são adquiridos de outros pequenos produtores da região”, observa o empresário.
Uma outra equipe formada por seis colaboradores atua na comercialização dos produtos fabricados no DF e também nas demais regiões do Brasil, principalmente no Entorno do DF e no estado de São Paulo. Na capital, é possível encontrar os rótulos produzidos pela marca em dez pontos de vendas.
Os clientes podem escolher até 12 rótulos da marca, dos quais sete são produzidos regulamente e cinco de forma sazonal, como a american ipa com rapadura, uma witbier com coentro e laranja, hop lager, uma stout com café e chocolate amargo, uma blond ale com capim santo, uma Catharina Sour com graviola e uma season com pimenta rosa.
Anexo ao local em que as bebidas são produzidas, o casal abriu um ambiente acolhedor e descontraído, seguindo o conceito alemão de biergarten, no qual cervejas podem ser servidas juntamente com petiscos assinados por uma chef de cozinha. No local, o cliente pode degustar as cervejas direto da fábrica e, segundo o empresário, apreciar um ambiente rural agradável, cercado de verde, de animais e da cuidadosa atenção dos proprietários do sítio e da cervejaria.
O biergarten tem capacidade para receber até 200 pessoas e fica aberto às sextas e sábados para almoço. Os clientes que vão até a propriedade de Aninho e Rosângela também podem realizar uma degustação dirigida pela cervejaria e experimentar os diversos rótulos produzidos pela marca.
Entre os planos para o futuro da marca, está a introdução gradativa de latas no processo de envase dos rótulos de cerveja. O empresário conta que a utilização de garrafas de vidro como embalagem já foi considerada a única opção, mas que no momento as microcervejarias do país veem o uso de latas de alumínio como uma alternativa de custo mais compatível com seus orçamentos e aliada da sustentabilidade.
O primeiro lote de latas da Cervejaria Dona Maria está perto de sair da fábrica. A expectativa é que as cervejas comecem a chegar aos clientes da marca em latas de 473ml já no fim deste mês.
Os produtos da cervejaria também são comercializados em growlers e barris.