Dentre os seres vivos que habitam o terceiro planeta do sistema solar, o único que reúne condições para a existência humana, com presença da atmosfera e da água em estado líquido, é o homem – que se diferencia dos outros seres vivos por ser o único a obter consciência, inclusive de nossa finitude.

Contudo, muitos acreditam na eternidade aqui; fato objetivo é que somos mortais e, portanto, a imortalidade é uma questão de fé; crença inatingível no terceiro planeta do sistema solar.

A consciência está diretamente entrelaçada com o tempo que representa uma medida, uma proporção ou uma mensuração. O conhecimento, fruto do aprendizado que nos torna conscientes, leva sua maturação com o tempo.

No campo filosófico temos duas importantes abordagens: a consciência intencional, que está direcionada a alguma coisa da qual há consciência; e a não intencional, que consiste em um mero reflexo da realidade que lhe é apresentada.

Ocorrência inerente da consciência nos torna mais cautelosos; porquanto, quanto mais a medida se alarga, ou seja, quanto mais o tempo passa, mais temos consciência dos perigos e dos desdobramentos dos eventos.

Vetustez do tempo nos faz olhar as coisas com objetividade. Origina-nos a lucidez, muitas das vezes indesejável, de que é preciso nos desconectar das imensas mentiras e engodos que a existência nos impõe.

Barulho alto, este som ensurdecedor, muitas das vezes é artimanha para impedir que se expresse a miserabilidade que se faz da existência inconsciente. A ação impulsiva da contemporaneidade, do registro incansável de se publicar tudo, é o reflexo do vazio existencial da modernidade.

Imperativo e urgente que o mundo inteiro, sem reserva, curta a vida que eu não curto, que o mundo inteiro inveje a minha mediocridade intolerável.

É insuportável representar esse papel tosco de uma felicidade falsa imposta inconscientemente. O único e revolucionário sentido é termos a consciência e o mínimo de lucidez de uma existência fecunda honrada.

A consciência, muitas das vezes, vocifera que é preciso ser despadronizado para o exercício da consciência, e assim será o único momento de racionalidade, de lucidez, de saúde intelectual e espiritual.

É preciso ser livre, autônomo e desafiar; ao invés de permanecer no palco alheio para representar uma existência escrita pelos outros em um roteiro terceirizado. Para no derradeiro momento ter uma passagem digna, virtuosa e sabedora de que apenas envelheceu e não se deixou levar pela decadência ruinosa, pelo vexame do ridículo, da desonra do infortúnio. Purgamos ao longo da obtenção da consciência.

A existência da escolha entre sermos épicos ou vulgares, teatrais ou indiferentes, retóricos ou simples é tudo uma questão de consciência para enfim chegarmos à plenitude da existência, numa casca de noz, e constatarmos que ali está contido todo o nosso universo, toda nossa inteireza, pois aquilo que importa, aquilo que vale, aquilo que move é nossa consciência.

 

(*) Por Henrique Matthiesen, Escritor , Jornalista, Advogado e colaborador do Jornal de Sobradinho