A presença de plantas e flores nas casas e apartamentos do DF aumentou no decorrer da pandemia e tem movimentado a economia na capital: no ano passado, foram realizados 7.714 atendimentos em floriculturas

Thiago Marques dava mudas de presente para conhecidos, daí surgiu a ideia de cultivar e vender alguma -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Thiago Marques dava mudas de presente para conhecidos, daí surgiu a ideia de cultivar e vender alguma – (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Florir a casa e cuidar das plantas foi um hábito que muitos brasileiros adotaram desde o surgimento da pandemia. Seja para colorir ambientes internos, para renovar os jardins ou para escapar do estresse e ansiedade gerados pela covid-19, cultivar tornou-se uma refinada arte para os brasilienses. Por isso, o mercado de floricultura tornou-se uma das principais atividades comerciais na capital federal. Em ascensão, a venda de flores no Distrito Federal cresce cerca de 15% ao ano e é o primeiro mercado consumidor do ramo no país, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O fato é que não importa a espécie, todas têm em comum a capacidade de serem apaixonantes.

A fisioterapeuta Gisele Mendonça Mariano, 40 anos, é uma das brasilienses que se apaixonaram pelo ato de cultivar. Preparar e cuidar da terra para produzir e dedicar-se ao desenvolvimento de algo tornou-se proveitoso em seu dia a dia, principalmente após a pandemia. Moradora do Cruzeiro Novo, ela conta que, apesar da formação em fisioterapia, atualmente, é dona de casa. Por isso, a floricultura tornou-se um hobby ainda mais especial. “Eu já cultivava uma planta ou outra antes da pandemia, mas não com este zelo de agora, gosto mais das plantas que florescem, sei diferenciar as que demandam mais sol, ou mais água, também as que são de quintal ou que vivem melhor em apartamento, e amo dar plantas de presente”, pontua.

Assim como Gisele, muitas outras pessoas passaram a visitar as floriculturas com mais frequência na capital federal. No ano passado, foram realizados 7.714 atendimentos em floriculturas no DF. De acordo com Carlos Morais, coordenador de Fruticultura da Emater, o mercado de flores é grande. “Em média, o brasiliense gasta mais de R$ 44 por ano em flores. A média nacional é R$ 26 por ano”, explica. Os dados mais recentes são de 2020, e mostram que o mercado de floricultura movimenta cerca de R$ 141 milhões, empregando aproximadamente 3,5 mil pessoas no setor entre empregos diretos e indiretos.

O coordenador explica ainda, que a principal característica do mercado consumidor de flores é a diversidade. “Aqui, o consumidor vai desde a grama até as árvores para jardins”, diz. De acordo com Carlos, no DF, as plantas são cultivadas em estufa, com umidade e temperatura controladas. “Nós trabalhamos a fertilidade do solo. O cerrado era considerado infértil há muitos anos mas, atualmente, somos campeões de produtividade, assim como as hortaliças, soja e milho. Na floricultura não é diferente”, reitera.

Gisele Mariano visita com frequência viveiro na Octogonal para comprar mais plantas para o seu cultivo
Gisele Mariano visita com frequência viveiro na Octogonal para comprar mais plantas para o seu cultivo(foto: Marilene Almeida/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia – DF)

Novos negócios

Durante a pandemia, muitos transformaram a paixão pelas plantas em negócio. Foi o caso do professor de biologia e comerciante de plantas Thiago Marques, 35. Morador de Sobradinho, ele conta que antes do home office, o quintal era uma bagunça: terra para todo o lado e plantas repetidas. Foi durante o trabalho remoto e após anos lecionando, que decidiu iniciar o cultivo de suculentas e novas plantas em seu jardim. Da grama verde, surgiu um viveiro, com flores cheirosas, horta e árvores frutíferas.

Thiago conta que depois de organizar o quintal, surgiu a oportunidade de iniciar o empreendimento. “Já havia dado várias mudas de presente para conhecidos. Foi quando surgiu a ideia de cultivar e vender algumas das mudas que tinha no viveiro”, explica. Do fundo do quintal, surge a loja “King Size”. O nome, teve como inspiração o desejo do professor de cultivar plantas adultas, bem formadas e adaptadas ao clima do DF. De acordo com ele, o principal meio de vendas tem sido a exposição em eventos e datas comemorativas, como Dia dos Namorados ou véspera de Natal, quando vende até 30 vasos por dia.

Para Thiago, manter a loja no quintal de casa abre um mundo de possibilidades, uma vez que não tem custos com aluguel ou funcionários. “Precifico de acordo com os investimentos e o preço de mercado. Procuro colocar os bons preços. Nos últimos cinco anos temos visto uma série de plantas do momento, que alcançam preços bem elevados. Tento vender as mesmas espécies com valores bem mais acessíveis”. Além disso, o professor trabalha com a montagem de jardins. “Nesses casos, o preço leva em conta horas trabalhadas, plantas, e a complexidade do serviço”, conta.

Para decorar

Para a arquiteta e professora de paisagismo do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Fatah Mendonça, as plantas tornaram-se tendências na casa dos brasilienses. “As plantas vieram dar um outro sentido dentro do espaço de viver e morar”, explica. Para aqueles que gostam de colorir os ambientes internos, seja em apartamentos seja em casas, Fatah diz que é importante estar atento às cores na hora de comprar as mudas. “O mais importante é ter o entendimento de como associar as cores com a paleta de mobiliário e os quadros que existem naquele espaço. Tudo isso vai fazer com que o seu vaso de flor converse com o resto do ambiente”, aconselha.

Para os ambientes externos, a especialista diz que o mais importante é buscar uma pessoa da área, um profissional de jardinagem ou de paisagismo, que vai indicar a melhor localização para colocar cada flor ou planta. “Cada uma é um ser vivo, que pede ambientes específicos, com mais ou menos umidade e sol. É preciso ter este entendimento e o especialista vai saber como, onde e qual planta colocar”, explica.

Dicas

O que ter no apê?

Plantas para apartamento precisam, em geral, de sombra ou meia-sombra. Quem mora em locais fechados está acostumado e nem percebe como entra pouca luz na residência. Tem mais paredes que janelas, por isso, plantas que precisam da totalidade do sol não devem ser cultivadas. As plantas não são boas em negociações, é preciso prover as condições adequadas ou elas morrem.

No quintal pode tudo?

Para o pessoal que tem quintal, todas as opções são válidas. Pode cultivar plantas de sombra, no interior da casa, ou na área externa coberta. Hortas também são uma boa pedida, é sempre um espetáculo, afinal, olhar para as plantas é legal, mas comer o que você cultivou tem um sabor diferenciado. Árvores frutíferas são interessantes, mas tome cuidado com o tamanho que podem alcançar. Se você tem um lote de 300m², por exemplo, uma mangueira adulta toma boa parte do espaço.

Como cuidar bem da sua planta?

Coloque a planta no local adequado e utilize a terra certa. Isso já evita a maioria dos problemas que certamente ocorrerão, afinal, a maioria delas não é nativa daqui. Ou seja, não possuem mecanismos adaptativos de defesa contra as ameaças de apartamentos ou casas, como fungos e vírus nativos da região. Estude sobre a planta antes de comprar, pense onde deseja cultivar, e confira se ela é apta para prosperar naquele local.

Fonte: professor de biologia e comerciante de plantas, Thiago Marques

Números

Valor bruto da produção: R$ 141 milhões (em 2020)

Crescimento do mercado de flores por ano: 10% a 15%

Produtores de flores no DF: 150

Flores mais exportadas: hortênsia e copo-de-leite

Fonte: Emater-DF

Você sabia?

Atualmente, está em desenvolvimento na Emater-DF o projeto “Brasília de Flor e Mel”, que tem o objetivo de diversificar ainda mais o plantio de flores e plantas ornamentais e incorporar a atividade da meliponicultura (criação racional de abelhas sem ferrão), como alternativa de renda e diversificação de produtos produzidos no DF. De acordo com a empresa, o intuito é fomentar a plantação de determinadas espécies para aumentar a presença das abelhas nativas do cerrado, sem ferrão, nos jardins do DF. Dessa forma, as pessoas poderão fazer proveito (de forma saudável e consciente) do mel produzido por elas.

* Por: Ana Maria Pol/CB , Marilene Almeida/CB – Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira/Correio Braziliense